a moenga

mais um dia no fim da minha vida.
estou sem vontade e foi-me difícil levantar. acordar não pois durmo aos pedaços.
eram duas da tarde e lá me arrastei até ao computador de onde enviei doze curriculos a outras tantas empresas.
a resposta, tão simpática, fria e automática quanto as outras. "agradecemos o sue contacto, informamos que o seu currículo será analisado pelo nosso departamento de pessoal e logo que esse processo esteja concluído entraremos em contacto com V.Exa.". mas há meses que espero cada toque do telefone como se fosse o último da minha vida mas nada. apenas familiares e amigos a confirmar que ainda me mantenho vivo.
puta que os pariu.
a esforço, lá tomei um banho, vesti-me e fui ao supermercado.
comprei apenas uma embalagem de esparguete e uma lata de atum. para o jantar, única refeição do dia. não tenho dinheiro para mais. apetecia-me um copo de vinho mas nada. ainda pensei em pegar na garrafa e retirar o código de barras, mas provavelmente não resultaria, seria apanhado, o mais certo.
julgo que nos devíamos juntar, aos vinte ou trinta desempregados e tomar os supermercados de arrastão.
a verdade é que começo a  ficar desesperado.
e nada é tão perigoso como um ser humano desesperado... com a vida.
é capaz de tudo.